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terça-feira, 4 de maio de 2021

Resenha: A Hora e Vez de Augusto Matraga

 



Ficha Técnica:
Conto (lançado avulso em edição própria e também presente no livro Sagarana)
Autor: João Guimarães Rosa
Editora: Global (1ª edição, 2019)


Sinopse: "Conto que encerra o livro Sagarana, “A hora e vez de Augusto Matraga” traz a história de um homem sertanejo acostumado a se impor pela força em seu cotidiano. Nhô Augusto é a perfeita síntese do mandonismo local que se fez presente em tantas cidades brasileiras durante o século XX. Manejando de forma magistral o dilema universal entre o bem e o mal, João Guimarães Rosa construiu um enredo surpreendente, que leva os leitores a refletir acerca de seus instintos."


A resenha de hoje é de um conto por que, sendo sincera, a pandemia drenou toda a minha vontade de ler coisas novas. As únicas coisas novas que tenho lido ultimamente são livros nacionais e um romance histórico que eu ainda não tinha terminado de ler, mas paciência! Conforme eu termine, farei resenhas deles também, principalmente por serem livros de autores independentes e que por isso mesmo merecem e precisam de todo o apoio e amor do público.




A motivação pra resenhar este conto veio da minha crescente apreciação do gênero "música revolucionária que o povo ouve com raiva no coração e sangue nos zóios" que pra mim, é cheio de músicas do Geraldo Vandré, Chico Buarque, Raul Seixas, Elis Regina dentre tantos artistas visados pela ditadura. 

Por terem vivido essa época e sentido na própria pele o pavor da censura, da paranoia e das ameaças sobre si e seus amigos e familiares, eles imprimiram em suas obras tanto a percepção das injustiças sociais e políticas da época, como também a vontade de questionar isso, o que foi o motivo para tantos terem sido banidos do país pelos militares. E isso tem que ser lembrado, especialmente nas circunstâncias atuais. 


Resumo do conto (ATENÇÃO, SPOILERS)





A Hora e Vez de Augusto Matraga (exatamente assim o título, a tentação de colocar um "a" antes de "vez" é grande, eu sei) nos apresenta o protagonista Nhô Augusto, o personagem título filho de um coronel que é um tremendo babacão. Um playboy com dinheiro que pensa que pode tratar os outros, principalmente mulheres, como se fossem lixo porque a população o venera naquele lugar (mais por medo e falta de escolha do que por admiração genuína, é claro). Se fosse hoje em dia, ele seria o canalha que se desvia de toda e qualquer acusação na justiça por ser filho de um político e é melhor eu voltar pra história porque tem muitos exemplos que se encaixam perfeitamente nisso.





Como gente ruim sempre encontra alguém pior, Augusto acaba vítima do Major Consilva, que manda seus capangas lhe darem uma surra  muito pior que aquelas de criar bicho. Após lhe marcarem com ferro em brasa na bunda (sério, é isso mesmo que você leu) ele pula de um barranco para se salvar e termina de se quebrar ainda mais. Os capangas se vão acreditando que ele está morto pela queda. Porém, assim como Jamanta da novela, Augusto não morreu e é resgatado por mãe Quitéria e pai Serapião:

"Deitado na esteira, no meio de molambos, no canto escuro da choça de chão de terra, Nhô Augusto, dias depois, quando voltou a ter noção das coisas, viu que tinha as pernas metidas em toscas talas de taboca e acomodadas em regos de telhas, porque a esquerda estava partida em dois lugares, e a direita num só, mas com ferida aberta. As moscas esvoaçavam e pousavam, e o corpo todo lhe doía, com costelas também partidas, e mais um braço, e um sofrimento de machucaduras e cortes, e a queimadura da marca de ferro, como se o seu pobre corpo tivesse ficado imenso."

Devagar, ele se recupera não só física, como também espiritualmente. O personagem vai sofrendo uma transformação bastante radical pela influência do casal que o acolhe e de um padre que o aconselha: 

"— Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua."




De valentão, Augusto passa a bom-samaritano, ajudando todos que encontra pelo caminho, determinado a conseguir a salvação de sua alma "nem que seja a porrete" como o próprio diz, pois crê que todo o sofrimento vivido teria sido um castigo e um alerta de Deus para que se desviasse de seu caminho DO MAL. Mesmo depois que um conhecido o reencontra e conta que sua mulher fugiu com outro e sua filha "se perdeu com um cometa" (que seria uma espécie de caixeiro-viajante), Augusto permanece fiel à ideia de trilhar o caminho do bem, apesar de isso entrar em conflito com seus próprios ideais de masculinidade:

"Apenas, Nhô Augusto se confessou aos seus pretos tutelares, longamente, humanamente, e foi essa a primeira vez. E, no fim, desabafou: que era demais o que estava purgando pelos seus pecados, e que Nosso Senhor se tinha esquecido dele! ‘A mulher, feliz, morando com outro... A filha, tão nova, e já na mão de todos, rolando por este mundo, ao deus-dará... E o Quim, o Quim Recadeiro — um rapazinho miúdo, tão no desamparo — e morrendo como homem, por causa do patrão... um patrão de borra, que estava p’r’ali no escondido, encostado, que nem como se tivesse virado mulher!..."


Joãozinho Bem-Bem, vivido por José Wilker no filme de 2015


E assim, passam os dias até que  Joãozinho Bem-Bem, um jagunço com fama que não faz jus ao nome, definitivamente, chega com o bando e é recebido pelo casal que cuidou de Augusto (provavelmente por que não se pode discutir com jagunços armados). Augusto fica impressionado com as armas e o poder deles, ao ponto de se tratarem como parentes. Após perguntar se ele não teria "algum inimigo alegre" dando sopa por aí e ouvir uma negativa, Joãozinho convida Augusto para se juntar ao seu bando criminoso. Ele, agora um "homem de bem", recusa. 

"O convite de seu Joãozinho Bem-Bem, isso, tinha de dizer, é que era cachaça em copo grande! Ah, que vontade de aceitar e ir também... E o oferecimento? Era só falar! Era só bulir com a boca, que seu Joãozinho Bem-Bem, e o Tim, e o Juruminho, e o Epifânio — e todos — rebentavam com o Major Consilva, com o Ovídio, com a mulher, com todo-o-mundo que tivesse tido mão ou fala na sua desgarração. [...] E Nhô Augusto cuspiu e riu, cerrando os dentes. Mas, qual, aí era que se perdia, mesmo, que Deus o castigava com mão mais dura..."

O interessante de se notar na trajetória de Augusto, é que por mais radical que seja sua transformação, o personagem em si nunca chega a ser um santo. Ele continua preso à tentação do poder e consciente dos prazeres ao seu alcance, seja quando toma "um trago", fuma um cigarro de palha ou olha as mulheres que passam, sem falar na vontade que ele tinha de poder se vingar da ex-mulher e de todos que fizeram-lhe mal. Mas ele resiste, não por acreditar que isso seria o "certo", mas por crer que nisso está sua salvação e que assim ele não sofrerá mais como sofreu.


Eis que ele resolve abandonar a companhia de Mãe Quitéria e Pai Serapião e parte para o arraial do Rala-Coco, onde topa novamente com o bando de Joãozinho Bem-Bem, que repete a proposta. E a resposta é:

"Nhô Augusto bateu a mão na winchester, do jeito com que um gato poria a pata num passarinho. Alisou coronha e cano. E os seus dedos tremiam, porque essa estava sendo a maior das suas tentações. Fazer parte do bando de seu Joãozinho Bem-Bem! Mas os lábios se moviam — talvez ele estivesse proferindo entre dentes o creio-em-deus-padre — e, por fim, negou com a cabeça, muitas vezes: — Não posso, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem!... Depois de tantos anos... Fico muito agradecido, mas não posso, não me fale nisso mais..."

Depois, lhe trazem o pai de um dos assassinos de Joãozinho que tinha fugido e sobre quem queriam cometer uma vingança horrível contra a família dele. O homem, um velho, implora pela piedade do jagunço, que não se comove.

Diante dos pedidos do velho, Nhô Augusto porém, se ergue em compaixão, pois é finalmente chegada sua hora e vez: 

"— Não faz isso, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem, que o desgraçado do velho está pedindo em nome de Nosso Senhor e da Virgem Maria! E o que vocês estão querendo fazer em casa dele é coisa que nem Deus não manda e nem o diabo não faz! Nhô Augusto tinha falado; e a sua mão esquerda acariciava a lâmina da lapiana, enquanto a direita pousava, despreocupada, no pescoço da carabina. Dera tom calmo às palavras, mas puxava forte respiração soprosa, que quase o levantava do selim e o punha no assento outra vez. Os olhos cresciam, todo ele crescia, como um touro que acha os vaqueiros excessivamente abundantes e cisma de ficar sozinho no meio do curral."





Joãozinho e Augusto ficam num embate que termina no confronto direto entre eles, a arma de Joãozinho contra a faca de Augusto. O resultado é a morte de ambos, um pelas mãos do outro.


Ê, facada bem dada

O bando de Joãozinho desiste do ataque com a morte do líder. O povo ao redor comemora de estar livre do domínio do jagunço. O velho ampara Augusto, chamando-o de santo e pedindo que seus filhos lhe beijem os pés. Augusto porém, quer apenas uma coisa: 

"Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou: — Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu falar no nome de Nhô Augusto Estêves, das Pindaíbas! [...] Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sério contentamento. Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrado, sumido: — Põe a benção na minha filha.., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo em ordem! Depois, morreu."

O autor

Escritor mineiro, poliglota, médico e diplomata. Guimarães Rosa, também conhecido como "o terror dos tradutores", foi um dos principais nomes do modernismo, marcado pelos temas nacionais e pelo uso de neologismos e vocabulário popular. 

E aparentemente, um grande fã de gatinhos. Gostei.

"Um dos fatos pitorescos envolvendo essa paixão pelos pequenos felinos deu-se quando Jânio Quadros foi visita-lo em sua residência e, vendo o bom número de bichanos, achou diferente, visto que a maioria das pessoas prefere cães. Rosa disse: “Os gatos são muito mais fiéis ao dono. Já os cachorros se parecem com certos diplomatas, abanam o rabo para qualquer autoridade”."(fonte)
 
Realmente. 

Outra curiosidade é relacionada à sua posse da 2ª cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 1963: "foi eleito por unanimidade, mas não foi empossado imediatamente, porque adiou a cerimônia enquanto pôde. Dizia ter medo de morrer no dia do evento. Só tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias em 19 de novembro, morreu subitamente em seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto." (fonte)



Eu que fiz. De nada.



Na adaptação cinematográfica, o caráter dúbio do protagonista fica mais evidente pela interpretação do ator:

"A breve oração ensinada pelo padre é repetida por Matraga algumas vezes durante o filme. Em um momento, ao fim de uma conversa na qual ouve as más notícias sobre a mulher e a morte de Quim, nhô Augusto repete as palavras do padre: "Jesus, manso e humilde de coração, fazei meu coração semelhante ao vosso". Mas sai de casa correndo e urrando, embrenhando-se no mato. Ele cai de joelhos, bate com os punhos no chão e grita: "Pro céu eu vou e vou mesmo, por bem ou por mal! Pro céu eu vou nem que seja a porrete! Pro céu eu vou!". A oração do padre é substituída por esta, criada por nhô Augusto, e corresponde, ao contrário das palavras ensinadas pelo padre, ao que ele sente de fato."  (fonte)

Pra mim, a ideia que fica é que apesar de não mudar sua personalidade básica e muito menos os seus defeitos, Matraga se redime e se torna alguém que usa sua força e sua valentia a serviço de um bem maior. Ainda que essas mudanças sejam muito mais motivadas por um enorme medo do divino do que pelo simples desejo de ser bom, não se pode negar que o resultado é o mesmo, uma boa ação. É pelo contato com o casal de sertanejos que ele aprende a ser humilde e tratar os demais como gostaria de ser tratado, desenvolvendo um senso de comunidade. 

E isso nos leva ao tema principal da história, que se entrelaça de modo estranho com a realidade em volta da obra e suas adaptações.


Transformações radicais




A música "Réquiem para Matraga" já foi usada na novela Velho Chico e, mais recentemente, no filme Bacurau. Eu sei, ninguém aguenta mais ouvir falar de Bacurau, mas pra muita gente (assim como pra mim) pode ter sido o primeiro contato com a música.

Réquiem significa "descanso" em latim e é um tipo de missa fúnebre celebrada por igrejas cristãs. Também designa composições criadas para essas missas. (fonte)

Quando se olha a letra da canção composta pelo paraibano Geraldo Vandré para a adaptação cinematográfica do conto, lançada em 1965, percebe-se que ele dialoga muito bem com os temas da história de Augusto Matraga:

 

Vim aqui só pra dizer
Ninguém há de me calar
Se alguém tem que morrer
Que seja pra melhorar

Tanta vida pra viver
Tanta vida a se acabar
Com tanto pra se fazer
Com tanto pra se salvar
Você que não me entendeu
Não perde por esperar


Bem e mal, vida e morte, espiritualidade, o sacrifício em prol do coletivo, a revolta contra a violência e injustiça no campo, tudo isso transparece belamente em meio dos acordes de viola caipira, violão e triângulo e influências do interior do Centro-Oeste e Sudeste (fonte): 

"A performance vocal supõe a serenidade de um sábio ensinamento sob a forma de uma canção do campo, ou ainda, de um rasqueado – estilo musical de ritmo ternário bastante praticado na região do Mato Grosso, com influências sonoras fronteiriças, como a guarânia paraguaia." (fonte



Muitas outras canções do compositor repetem algumas dessas características, como "Fica mal com Deus", "Canção nordestina" e "Disparada", provavelmente um dos maiores clássicos de Vandré, só atrás de "Pra não dizer que não falei das flores". (No meu coração, porém, Disparada sempre ganha).

"Vandré, àquela altura, era ovacionado como o mais valente dos compositores. Especula-se que a euforia causada pela canção tenha apressado o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), dali a um mês e meio." (fonte)

Outro tema do conto e talvez o mais profundo, porém, se interliga de uma forma um tanto estranha com o compositor da música, que é a transformação radical que uma pessoa pode sofrer ao longo de uma vida. Enquanto no conto Augusto Matraga se transforma em Nhô Augusto, Vandré passou por algo semelhante ele próprio durante a ditadura militar:

"Ainda em 1968, Vandré fugiu do país, voltando bastante diferente em 1973. O ex-empresário, José Guedes, revelou em entrevista à revista Trip que após apresentação do Maracanãzinho, receberam o recado dos militares de que deveriam sumir. Ainda de acordo com o profissional, o músico passou mais um tempo em São Paulo, até partir para o Rio, onde se escondeu na casa do escritor Guimarães Rosa, de onde partiu para o Uruguai dentro de uma ambulância. Jair Rodrigues relatou à publicação que, ao voltar a reencontrar o amigo, já novamente no Brasil, foi recepcionado por uma estranha afirmação: "Eu cheguei todo animado e disse: 'Vandré'. Aí ele me olhou e falou: 'Eu sou o Geraldo Pedrosa, o Geraldo Vandré morreu em 1968'" (fonte)




O que teria acontecido com Geraldo Vandré nesse período é controverso. Apesar de certos biógrafos (leia-se: negacionistas da ditadura) dizerem que ele "nunca foi perseguido, nem torturado", é visível uma mudança profunda da identidade do músico, que era descrito por familiares, amigos e conhecidos como tendo um temperamento forte e irritadiço:

"Vandré se exilou no Chile e de lá viajou para Alemanha e França. Quando voltou, em 1973, já não era o mesmo. Decidiu que só faria “canções de amor” e, para espanto de seus fãs, compôs "Fabiana", em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira. Para muitos de seus contemporâneos, ele teria enlouquecido em decorrência das sessões de tortura. Em 2010, Vandré ressurgiu numa entrevista exibida pela GloboNews. Negou que tenha sido torturado e repudiou o rótulo de autor de músicas de protesto. “Eu não faço canção de protesto. Eu faço, fazia, música brasileira, canções brasileiras”, disse." (fonte)



Quando eu disse transformações radicais, era disso que eu falava. Do que mais vocês pensaram que fosse?

Ok, faz sentido.



Como dizia Raul Seixas, às vezes é preferível mudar de opinião que insistir na velha forma de ver o mundo e tudo. Na verdade, a única forma de ganhar maturidade é essa, estar sempre reexaminando suas crenças e repensando ideias. Por outro lado, há casos em que a mudança é tão drástica que passa a impressão de uma falta de coerência interna, como se a pessoa não tivesse tido tanto comprometimento assim com os ideais de outrora do que se pensava originalmente.    




É claro, o Vandré pode ter mesmo apenas mudado de ideia e tem todo o direito. Mas uma coisa que se esquece é que ele foi sim, abordado pelos militares e depois se refugiou no exterior, e não foi à toa, com certeza. A dor de estar longe de casa, da família e dos amigos não seria uma tortura por si só? Justo Geraldo Vandré, que tanto amava as músicas do país onde vivia, como alguém pode achar que esse sujeito não sofreu enquanto esteve exilado ao ponto de renegar seu próprio nome artístico, sua carreira, seus ideais que sustentava até então? Ingenuidade pensar que quatro anos no exterior vivendo sabe-se lá em que condições e com que grau de paranoia não mexem com a cabeça de qualquer um.

"O artista de 80 anos vive em São Paulo e, segundo amigos ouvidos pelo biógrafo, continua compondo, embora não se mostre disposto a gravar músicas ou publicar poemas." (fonte)



Um dos pontos que eu concordo é que talvez não dê mesmo pra chamar o Geraldo de artista engajado: ele provavelmente simpatizava com os movimentos estudantis e a esquerda que lutava contra a ditadura, mas talvez ele apenas quisesse ser isso, um artista. Por tudo o que eu li sobre as longas horas em que ficou compondo a melodia de Réquiem, ele realmente devia adorar cantar e tocar, principalmente para o público. E até isso talvez tenha sido tirado dele em seu exílio. 

Nessa linha de raciocínio, pra mim não é difícil ver no lugar de um desses artistas que "caducaram" com a idade, alguém semelhante a Augusto Matraga: um homem ferido que queria urgentemente escapar de uma força muito maior que ele, suprimindo sua identidade e criando outra para si no processo.

Ou, talvez, ele só tenha caducado mesmo. Nunca saberemos.



 

Qualquer que seja o motivo da mudança, Geraldo Vandré pode até estar "morto", mas suas canções ainda vivem e são celebradas por todo o país e afora.

Tempos atrás (quando ainda não éramos governados pelo capiroto) eu cheguei mesmo a debochar de como algumas pessoas adoravam essas músicas, pensando "Ah, não é tudo isso." Agora, conforme vemos essa situação calamitosa que dominou o país, entendo como essas canções foram e são importantes pra geração que viveu e que lutou na época contra a opressão institucionalizada pela ditadura militar.





Referências


O escritor que gostava de gatos






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