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quinta-feira, 22 de julho de 2021

Flipop 2021 - Minha cobertura (quase) completa do primeiro dia



Começa hoje a 5ª edição da Flipop (Festival de Literatura Pop), que vai dos dias 22 a 25 deste mês e é promovido pela Editora Seguinte. O evento, sediado em São Paulo nos anos anteriores, foca no público leitor jovem e promove debates com autores de diversos gêneros, tanto nacionais como também estrangeiros.

Realizado desde o ano passado de forma remota devido à pandemia, assim como na anterior, esta edição também teve inscrições gratuitas por e-mail. Confesso que mesmo antes da pandemia eu não era frequentadora habitual de eventos literários (nem qualquer evento, aliás), no máximo a Bienal na minha cidade, mas essa mudança na realização me estimulou e eu decidi não perder de novo essa chance de prestigiar os autores convidados.

Até porque, essa é uma pauta muito mais interessante que a minha resenha daquele livro do Jô Soares onde o Sherlock Holmes tem uma diarreia, mas não se preocupem, ela sairá. Um dia.

Dito isso, lógico que não me acho no nível de cobrir um evento desse porte (minha net caiu e eu só pude ver a primeira mesa, a segunda eu vi um pouco e a terceira acabei não vendo), mas eu vou tentar ao menos compartilhar um pouco da minha experiência com vocês.  


Então, o que rolou no primeiro dia da 5ª edição da Flipop?



O evento contou com um ambiente virtual que simula o ambiente físico do evento, num esquema parecido com aquelas visualizações do google maps. Achei bacana, apesar de ter demorado um pouco pra me localizar pelo celular até finalmente esbarrar com o tutorial de navegação. Fora essa dificuldade inicial, foi relativamente fácil acessar o palco principal onde acontecem as mesas de debate. Além disso, os autores Bruna Vieira, Clara Alves e Pedro Rhuas se dispuseram a autografar seus lançamentos em sessões virtuais disponíveis por link mediante compra. Achei essa uma solução bacana para ter aquele momento com um autor querido guardado na memória sem correr riscos.

Outro detalhe importante de ser notado é a presença dos intérpretes de Libras, que se revezaram em tempo real durante as três horas de evento, trazendo acessibilidade ao festival. A audiência também conta com um espaço para mandar perguntas e mensagens, mas como eu usei meu celular a maior parte do tempo em tela cheia, não observei muito se funcionava (e também tive alguns contratempos com a minha internet no fim da primeira mesa, então não vi se responderam alguma pergunta dos internautas, mas acredito que sim).




A primeira mesa começou às 15 hrs, com o tema YA ontem e hoje, com a editora de livros YA Ana Lima e os autores Juan Jullian e Paula Pimenta. Quem mediou foi a Frini Georgakopoulos, a autora de "Sou fã, e agora?". Como foi explicado na mesa pra quem não sabe, YA significa Young Adult, e é uma categoria de livros cujos personagens tem por volta de 17 a 20 e poucos anos de idade, vivenciando e focando em experiências típicas dessa faixa etária. Não tem necessariamente a ver com a idade do público consumidor de fato, já que uma boa parte dele são pessoas mais velhas, mas o público alvo é definitivamente esse. 

Os autores discorreram sobre as mudanças dos primeiros anos 2000 para cá, e eu acho que muita gente gostaria de ter ouvido menos citações a HP como influência, mas a questão não era debater se era ou não uma boa influência, mas dizer que foi, definitivamente, uma influência. O pessoal da mesa não está errados de forma alguma nisso porque esses livros foram consumidos e exaltados à exaustão nessa época e infelizmente são até hoje, apesar das muitas problemáticas envolvidas que não eram pensadas até então, mas foram aparecendo a medida que as pessoas ofendidas começaram a reclamar e se fazerem ouvidas. 


Aquela autora, a JK ROLOS


Um autor independente que reproduz um preconceito em sua escrita e corre atrás para consertar o erro e se desculpar é bem diferente de uma autora com um patrimônio de milhões de libras e um grande alcance midiático, simplesmente determinada a espalhar ainda mais preconceito, transfobia e desinformação que pode realmente influenciar leis e arruinar a vida de inúmeras pessoas, eu acho que o público consumidor já deveria ter entendido que dar dinheiro pra essa senhora é muito errado.

"Ain, Jéssica, mas marcou a minha infância..."

Muita coisa também marcou a minha, tipo aqueles caminhõezinhos de brinquedo com bolinha de açúcar dentro, mas nem por isso eu preciso continuar consumindo, né? Tem tanto livro bom e nacional saindo hoje em dia, precisamos mesmo sempre voltar a HP?

Pra ser justa, fizeram sim uma menção bem indireta e breve a essa questão, mas acho que todos nós sabemos o motivo de ninguém poder apontar diretamente o elefante branco na sala:




Enfim, outros autores e obras não menos problemáticos também foram citados, como Percy Jackson, John Green, Crepúsculo... Como eu não quero fazer uma "problematização infinita" aqui e existem pessoas muito mais gabaritadas do que eu para falar, vou sugerir que pesquisem se quiserem saber os detalhes. Por mais que eu pessoalmente goste de muitos desses livros como também gostava de filmes e tudo relacionado a Harry Potter, não dá pra ignorar que a maioria dessas referências de literatura juvenil são em sua maior parte gringas e bem ruins. A gente gostava porque não conhecia outras opções, a verdade é essa. 

Felizmente esse panorama vem mudando cada vez mais justamente porque agora nós temos sim alternativas melhores, mais inclusivas e que vem de autores com os quais podemos nos identificar e socializar ainda por cima, tudo graças às redes sociais. 

As Artes Mágicas do Ignoto, coletânea de diversos autores disponível em e-book e livro físico por financiamento coletivo. Saiba mais aqui e aqui.


Muitos dos convidados presentes eu conheci graças ao twitter e instagram e de outra forma eu dificilmente encontraria os livros deles, pois nem todos são publicados por grandes editoras ou estão disponíveis em livrarias na minha cidade. Eu moro no interior do estado do Rio e por mais que tenha um acesso mais fácil a livros, não tem tantas livrarias quanto numa capital.


A mesa também abordou as dificuldades de conciliar as histórias e personagens com o público leitor, que às vezes acaba sendo diferente do esperado (ou mais jovem, ou mais adulto), além da inclusão de mais diversidade nos livros para o público jovem, como por exemplo com personagens e autores LGBTQIA+. 



Juan Jullian, autor do aclamado "Querido Ex", contou que se inspirou em David Levithan, autor estadunidense de "Dois garotos se beijando" e "Todo dia". Ele disse que essas leituras foram muito importantes para se entender melhor, mas que não se via nesses livros, já que são realidades diferentes. Ele destacou que por ser negro e gay, não existiam muitas histórias com as quais pudesse se identificar, e que seu primeiro livro foi bastante autoral por conta disso.




A Ana Lima destacou que a representatividade LGBTQIA+ não é a única pauta existente no debate (temos também a questão racial, de pessoas com deficiência, gordas, só pra citar alguns) mas que é importante e veio para ficar. Ela também relembrou o caso da Bienal do Rio de Janeiro em 2019, na qual o então prefeito Crivella, num rompante de ignorância, homofobia e marketing político, tentou censurar a HQ dos Vingadores que mostrava um beijo entre dois personagens masculinos. "Não dá pra descansar, tem mais espaço, mas temos que ficar atentos." declarou ela, e a frase mais repetida pela mesa a respeito de representatividade foi "Manda mais que tá pouco!" 

Também houve discussão sobre os caminhos dos autores independentes e a necessidade cada vez maior de interagir com redes sociais para alcançar leitores. Paula Pimenta citou o Tik Tok, declarando que não tem muita disposição para usá-lo "Fiquei velha", brincou ela. Pelo menos, você ficou velha Paula. E eu que já nasci velha?, chora esta blogueira que vos escreve.

Sobre clichês no YA, Frini comentou que a tendência atual são personagens contemporâneos lidando com situações contemporâneas e perguntou aos presentes quais temas eles achavam que deveriam ser mais abordados. 

Paula Pimenta constatou " Se clichê não fosse bom, ninguém repetiria. Se torna clichê porque é bom." Eu pessoalmente discordo e concordo com essa afirmativa, porque pra mim, depende do clichê. Acho que certos clichês são repetidos mais por comodismo do que por serem realmente bons, até porque o que faz o clichê ser bom na verdade é a execução. Ela citou uma fala da personagem de Débora Falabella em Lisbela e o prisioneiro, quando a mocinha assiste o filme no cinema e apesar de já saber tudo o que vai acontecer, ela curte a experiência porque o bom mesmo é a jornada e não o objetivo. Ou seja, explicou tudo o que eu disse sobre execução, mas com outras palavras. E eu já falei que gosto desse filme?

Jullian respondeu indagando para quem esses clichês eram feitos, e que muitas vezes as únicas histórias com alguma representatividade eram trajetórias focadas somente nas dores de pertencer a uma minoria social. "Não precisa ignorar, mas variar isso."



Ana Lima disse "O interessante é colocar personagens diferentes nesses clichês." E citou o livro "Você tem a vida inteira", que traz um protagonista portador do vírus HIV, mas numa história leve que não vê comumente associada ao tema.

Também falaram um pouquinho sobre preconceito literário com o YA, a competição pela atenção com redes sociais e outras mídias. "Não dá só pra pedir, é importante consumir", ressaltou Ana Lima, e eu fiquei só lembrando dos saudosos posts do blog Mais de Oito Mil sobre fãs que chiam atrás de determinado anime pra depois ignorarem solenemente e o anime ser cancelado com audiência pífia, ou qualquer outra das tretas editoriais de mangá no Brasil. Sobre criar o hábito da leitura nas crianças e adolescentes e manter na idade adulta, ela disse "O importante é ler, ler o que quiser. Eu sou a favor de ler todos os livros, qualquer livro. Que leiam e continuem lendo." Ela também sugeriu a leitura de clássicos com acompanhamento nas escolas ou entre grupos e familiares.




Por fim, cada autor convidado falou de seus lançamentos e projetos e foi logo depois disso que minha net caiu. O que eu pesquei depois foi que Paula Pimenta está escrevendo o quinto livro de sua série Fazendo Meu Filme e cuidando de um filme a ser lançado, Juan Jullian irá lançar Maldito Ex em agosto e  a Ana Lima falou dos lançamentos A Maldição do Carneiro de Ouro e da continuação das coleções Astrológicas.



E essa foi apenas a primeira mesa e eu já estou acabada de escrever e comer kibe enquanto estou de pijama. Sério, eu acho que minha cobertura informal vai parar por aqui por hoje, mas a Flipop continua com mais duas mesas às 17hrs e às 19 hrs (que eram sobre HQs e poesia, se não me engano. No  momento em que escrevo elas já ocorreram, mas acho que colocaram os vídeos no Youtube). Diversos autores convidados que valem muito a pena conhecer estarão presentes nos próximos três dias, além de  conteúdos exclusivos no site, descontos nas lojas virtuais, sorteios e outras interatividades. 

Acompanhem a cobertura especializada pelo twitter e instagram no perfil da Editora Seguinte e pela hashtag #Flipop2021.