Aumentar ou Diminuir a fonte

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Um conto de Natal





Olá, pessoa pessoas que acompanham este blog. Se divertiram muito comprando traquitanas, badulaques e baldes de batata frita na black friday?
Não, porque a competição ferrenha que rolou este ano me lembrou muito aquele episódio do Chaves em que ele e o Kiko competem tentando vender refresco pra Chiquinha. 


Mas deixando de lado o consumismo que impera nos últimos meses do ano, quero abrir um pequeno espaço para desabafar: Não acho que este blog irá durar até o ano que vem. E não digo isso só pela falta de comentários, (que também é bastante desanimadora) mas também porque uma série de fatores vem diminuindo minha vontade e disponibilidade para escrever aqui. O que eu quero dizer é que este foi um ano de muitas mudanças na minha vida: eu terminei de escrever um livro (apesar de ainda estar editando ele), fiz amizades com pessoas sensacionais que eu espero levar pelo resto da vida, e tomei atitudes com relação a problemas que vinham sendo negligenciados a anos. Ainda que pouco, eu cresci como pessoa em 2017.

Mas, infelizmente, também houve perdas ao longo do caminho. Quem me conhece saberá a que me refiro. Por mais que eu me esforce para manter o otimismo e lembrar de todas as coisas boas que me aconteceram, é  triste perceber que alguém que você admira não corresponde mais às suas expectativas. Não vou citar nomes, só dizer que um dos motivos pra este blog existir era minha admiração pelo trabalho de uma pessoa que, neste momento, eu não consigo mais apreciar. É claro, ninguém tem o compromisso de se adequar às minhas expectativas, mas quando se idealiza alguém por muito tempo, esse é quase sempre o resultado.

Talvez um dia eu olhe para trás e ache que foi uma coisa sem importância, talvez não. A única coisa que eu sei é que quando nossos ídolos nos desapontam, só o que resta é aceitar com humildade que somos todos humanos e seguir em frente.
 

Agora que estou com o coração mais leve, vamos à resenha!


Um Conto de Natal, escrito por Charles Dickens e publicado em dezembro de 1843 é com certeza a história natalina mais famosa de todos os tempos. O que se conta é que Dickens a escreveu em menos de um mês para pagar dívidas, sem imaginar que o livreto se transformaria num sucesso colossal de vendas, com mais de seis mil cópias em apenas uma semana.  O que foi bom, já que Dickens não era conhecido só por seus escritos, mas também por ser praticamente o Mister Catra da Inglaterra Vitoriana, tendo tido ao todo, 10 filhos. Isso e o fato dele ter nascido numa classe "inferior" em comparação a outros escritores da época contribuíam para que os críticos vissem seu trabalho com maus olhos.



Apesar de seu estilo ser classificado como "folhetinesco" e "moralista", Dickens escreveria depois muitas obras que são hoje consideradas alguns dos melhores romances ingleses, como Oliver Twist, A casa sombria e Grandes expectativas. Seus temas principais sempre foram a vida dos excluídos e a desigualdade social que reinava entre a classe operária inglesa. O próprio pai de Dickens foi preso por dívidas, o que obrigou o jovem Charles a trabalhar para sustentar a família, fato que marcou sua infância e influenciou suas obras.

Mas voltando ao assunto da resenha, o fato é que Um conto de Natal ainda é sua obra mais marcante no imaginário popular. Como um vírus, seu livrinho de Natal, como ele o chamava, infectou todo tipo de mídia e praticamente nenhum ícone da cultura pop passou imune a ela. Claro, eu não estou reclamando... eu adoro ver adaptações desse clássico. Se pelo menos isso não acontecesse em todo...





e qualquer...


especial...


de Natal...



URGHHHH!!!

Sendo sincera, alguns desses especiais são muito bons. Por exemplo, O Natal do Mickey, que é um dos meus preferidos desde sempre.


Curiosamente, o Tio Patinhas deve sua criação a este livro também, uma vez que foi baseado no avarento que todos conhecem como Ebenezer Scrooge. Seu nome em inglês é uncle Scrooge, não por acaso.

Sendo assim, acho que podemos prosseguir com a história. Como acredito que todos estamos cansados de saber o que acontece nela, tentarei ser mais sucinta. Pois bem:

Dickens começa a história afirmando o fato de que Marley está morto.





Não, não esse Marley...




Quase, mas...




É, esse Marley!

"Scrooge e ele foram sócios por não sei quantos anos. Scrooge era seu único testamenteiro, além de ser também seu único administrador, procurador, herdeiro, amigo e o único que chorou sua morte. Apesar disso, não ficou tão abalado a ponto de esquecer que era um homem de negócios e, assim, fechou um belo negócio ainda no dia do funeral, tornando essa data inesquecível."

Como podemos ver, Ebenezer Scrooge é um velho mau, repelente e nem um pouco bom. Se ele fizesse parte de uma associação, seria esta:




"Nenhum vento que soprasse era mais áspero que ele, nenhuma neve que caísse era mais insistente e determinada em seus propósitos e nenhum temporal podia ser mais desagradável. O tempo ruim não o impressionava. A chuva, a neve e o granizo só tinham uma vantagem sobre ele: caíam com graça, e Scrooge não tinha graça alguma."

"Sou melhor que você, velho capitalista!!!"

O narrador continua então a contar sobre o escritório de Scrooge, cujo único funcionário é o pobre coitado Bob Cratchit, ilustrado aqui pelo Mickey:



"Na sala de Scrooge havia um foguinho aceso, mas o do seu empregado era tão minúsculo que parecia feito de um único carvão. Entretanto, ele não podia reavivar este fogo porque Scrooge guardava a caixa de carvão em seu escritório e já tinha avisado que, se ele ousasse entrar lá com a pá, seria imediatamente demitido. Assim, o escrevente dava mais uma volta no cachecol branco e tentava aquecer-se na chama da vela, objetivo que jamais alcançava."

Assim que eu terminei de ler esse trecho me lembrei daquele meme "O trabalhador vai poder negociar diretamente com o patrão". Sim, eu passo muito tempo no twitter. 






Continuando, enquanto pensava em mais formas de oprimir o proletariado, Scrooge é interrompido por seu sobrinho que comete o erro de lhe desejar Feliz Natal e convidá-lo para a ceia. 





Frente à previsível reação do tio, ele pergunta o porquê de tanta irritação, ao que ele responde:





"E como posso não me irritar, em um mundo cheio de imbecis? – exclamou o tio. – Ora, Feliz Natal! Basta de Feliz Natal! O que é o Natal para você, senão a época de não ter dinheiro para pagar sequer suas contas? A época de se dar conta de que está um ano mais velho e nem uma hora mais rico; o momento para fazer um balanço nos livros de contabilidade e ver que cada item, nestes doze últimos meses, só lhe trouxe prejuízo? Por mim – continuou Scrooge, indignado –, cada idiota que saísse por aí desejando Feliz Natal deveria ser fervido, misturado junto com seu bolo de Natal e enterrado com um galho de pinheirinho no coração, isso sim!"

"Eu só queria algumas curtidas"- Geraldinho do grupo família, RIP

Após colocá-lo pra correr, dois cavalheiros pedindo por doações aparecem, e novamente, os resultados são previsíveis:



"– Nesta época de festas, senhor Scrooge – disse um dos cavalheiros, pegando uma caneta
–, torna-se ainda mais urgente que façamos doações aos necessitados, os quais têm sofrido  muito ultimamente. Milhares de pessoas não têm como satisfazer suas necessidades mínimas, e outras centenas de milhares vivem sem o menor conforto.
– Mas não há prisões?
– Sim, muitas – disse o cavalheiro, largando a caneta.
– E as casas de trabalho forçado? – perguntou Scrooge. –Ainda estão funcionando?
– Infelizmente estão – confirmou o homem. – Quem dera pudesse dizer o contrário.
– As leis dos trabalhos forçados e contra os mendigos ainda estão em vigor?
– A pleno vapor, senhor.
– Ah, levei um susto! Pelo jeito que o senhor falou eu
pensei que tivesse acontecido alguma coisa capaz de impedir o funcionamento dessas
instituições tão úteis. Fico feliz em saber que estão bem."


Crianças trabalhadoras em Londres.

Ao fim do expediente, Scrooge volta sozinho para casa, onde se depara com uma visão chocante:



"Embora visse o Fantasma de Marley na sua frente; embora sentisse a influência enregelante de seus olhos, frios como a morte, e reparasse até mesmo na grossura do lenço amarrado em torno de seu queixo e de sua cabeça, que não havia reparado antes, ainda assim não acreditava e lutava contra aquilo seus próprios olhos mostravam."

Ok, fica meio difícil achar o pateta assustador. Vejamos uma outra versão do Marley:


Não essa!






 Essa aí!


"O Espírito deu outro grito pavoroso, sacudiu novamente a corrente e torceu suas mãos fantasmagóricas.
– Você está acorrentado – disse Scrooge, tremendo. – Diga-me por quê.
– Carrego a corrente que fiz em vida – respondeu o Fantasma. – Fiz cada um destes elos, metro por metro, e enrolei-os em volta da cintura, por minha livre vontade, e por livre vontade arrasto-os por toda a parte. Olhe para esta corrente, não se parece com alguma que você conhece?
Scrooge tremia cada vez mais.
– Ou você saberia o peso e o comprimento da corrente que você mesmo carrega? Há sete
Natais, ela era tão pesada e comprida como esta. Desde então você tem feito de tudo para
aumentá-la, e agora ela está pesadíssima!
Scrooge olhou ao redor, por toda a peça, esperando se ver rodeado por uma imensa corrente de ferro. Mas não conseguiu ver coisa alguma.
– Jacob! – disse ele, implorando. – Velho Jacob Marley, me conte mais. Dê uma palavra
de consolo à minha pobre alma, Jacob!
Ele esticou os braços e ergueu suas correntes, como se elas fossem a causa de seu
inconsolável sofrimento, e depois deixou-as cair pesadamente ao chão.
– Nesta época do ano, meu sofrimento aumenta – disse o Fantasma. – Por que caminhei entre as pessoas e não olhei para elas? Por que nunca ergui os olhos para ver a Estrela Sagrada que conduziu os Reis Magos à manjedoura humilde? Como se não houvesse pobres casebres para os quais aquela luz poderia ter me conduzido!
Scrooge ficou muito perturbado ouvindo a lamentação do Espírito e começou a tremer.
– Ouça! – exclamou o Fantasma. – Meu tempo está acabando.
– Está bem – disse Scrooge –, mas não seja muito duro comigo, Jacob! Não seja tão
exagerado, por favor!
– Não sei lhe explicar como foi que apareci aqui de uma forma que você pudesse me ver. Estive sentado ao seu lado, por muitos e muitos dias, sem que você percebesse.
Não era agradável imaginar isso; Scrooge sentiu calafrios e enxugou a testa molhada de suor.
– Esta não é a parte mais leve do meu castigo – prosseguiu o Fantasma. – Estou aqui, esta
noite, para lhe avisar que você ainda tem uma chance de escapar do meu terrível destino, uma chance que consegui para você, Ebenezer.
– Você sempre foi um bom amigo para mim – disse Scrooge. – Muito obrigado.
– Três espíritos virão visitar você – disse o Fantasma.
Scrooge ficou quase da cor do Espírito.
– É esta a chance e a esperança de que você falou, Jacob? – perguntou, com a voz trêmula.
–Exatamente."




E este é o começo de Um conto de Natal. Conseguirá o velho sovina amolecer seu coração e se compadecer pelos mais necessitados antes que seja tarde? Vocês só saberão se lerem o livro...

Ou se tiverem assistido às trocentas adaptações na tv, como eu acredito que vocês já fizeram.


"Ah, mas eu não sei como termina..."





Algum outro comentário? Então, termino esta resenha aqui.  



Minhas impressões:




Apesar de dividir opiniões entre os críticos, a obra de Dickens e principalmente este livro influenciaram uma série de leitores ao longo do anos, que aqueceram seus corações com a história do velho sovina. Robert Louis Stevenson e Thomas Carlyle se disseram tocados ao ponto de contribuir para a caridade. No começo do século XX, Maud de Gales, a rainha da Noruega, chegou a enviar presentes para as crianças de uma associação para portadores de deficiência física em Londres, assinando "com amor, do Pequeno Tim".



Aww... desculpem, é que caiu um cisco no meu olho, só isso!

Acho que a lição que fica é que você não precisa ser a rainha do País de Gales pra realizar um ato de caridade. Se você puder, faça algo de bom para quem está perto de você. Garanto que todos se sentirão muito mais felizes.

Assim, eu recomendo muito essa leitura, pois é um livro curto e muito gostoso de ler. Também recomendo a adaptação da Disney que é a que eu levo no coração e na minha memória de criança.

Eu fico por aqui, desejando um ótimo fim de ano e Boas Festas para todos vocês!