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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Café da manhã com Dostoiévski, ou o mal de ser um babaca literário






E quem diria, estou aqui de volta para mais um artigo! VIVAAA!!! (comemora sozinha)

Sobre o tema de hoje, estava eu tranquilamente na praia, tomando meus bons drinks, quando alguém compartilhou num grupo no facebook um texto intitulado "O mal de se sentir inteligente lendo Harry Potter e a Guerra dos Tronos". Um título cheio de clickbaits chamativo assim, eu não resisti e cliquei, já imaginando que encontraria uma crítica ácida aos fanboys e fangirls babacas que existem aos montes por aí. Até aí, tudo bem, eu concordo que todo tipo de coisa tem fãs extremistas, mas comecei a questionar a intenção real por trás do texto quando esbarrei nessa afirmação:

"Fascinados pela violência brutal, sexo e intrigas políticas de “Guerra dos Tronos”, muitos jovens inteligentes não estão dando os passos seguintes. Estagnam-se na fase “fantasia adulta”, sem perceberem que Martin é um tipo de Júlio Verne dois ponto zero. "

Separei esse trecho pra destacar como o autor não se importa nem um pouco em ser pedante e injusto em sua análise do "problema de leitura dos "jovens inteligentes". Veja bem, Júlio Verne, considerado por críticos literários como o Pai da Ficção Científica, tendo previsto vários dos avanços tecnológicos que só ocorreriam um século depois, serve, segundo ele, como parâmetro do sucesso de um escritor "mediano e popularesco" nas palavras dele. Não, eu acho é que o senhor está dando vantagem pro Martin com essa comparação. Por mais que ambos sejam famosíssimos e tenham escrito boas obras de aventura, vamos convir que a obra de Julio Verne não foi lançada ontem, nem é pouca bosta não.

Né, Jules?

"Sem ressentimentos"


A wild Kraken appeared!



A partir daí, eu voltei alguns parágrafos no texto já sacando qual era a do autor, que apesar de ter comparado Martin com Julio Verne, agora cita o mesmo numa lista de escritores que são os que, segundo ele, os jovens inteligentes liam:

  
"Justamente essa é a questão: os jovens inteligentes que antes liam, digamos, Lobato, Júlio Verne ou Jack London e depois passavam para Kafka e Aldous Huxley, tendendo potencialmente a chegar em Proust, Thomas Mann e Borges e daí se aventurarem em autores contemporâneos como Philip Roth e Alan Pauls, diminuíram drasticamente."


Ok, vamos por partes:  Pelo que eu percebo, ele quis elencar os autores, dos mais "fáceis" para os mais "difíceis". Acharia até ok fazer isso, se fosse numa aula de literatura. Pra pessoas interessadas em literatura. Ponto.

O que eu quero dizer? Simplesmente que não dá pra exigir que as pessoas leiam algo só porque você acha que é bom. Ou melhor, se você é professor literário (e espero que não seja) você pode até forçar seus alunos a lerem algo porque você vai cobrar depois, mas sinceramente, que bem fará isso?

Eu tô cansada de ouvir gente falando mal de Machado de Assis. Nossa, parece até que ele é o escritor mais chatonildo de que se tem notícia (e não é: esse título pertence ao Augusto Cury). Eu li Machado por causa da escola, mas não tenho essa opinião, sabe porquê? Por que eu era uma cdf e lia tudo que fosse preciso ler, gostando ou não.Sendo assim, ninguém achava necessário me forçar a ler os livros dele e acredito muito que isso contribuiu pra que eu curtisse mais a experiência.

Agora, uma coisa que eu não faço é dizer que a pessoa não é inteligente até ler Dom Casmurro ou qualquer coisa que o valha. Por que é isso exatamente o que gente chata faz.


Uma coisa é sugerir uma obra, exaltar seu valor por alguma característica dela. Outra bem diferente é achar que você sabe o que é melhor pras pessoas baseado apenas no seu padrão de "boa literatura". Existem critérios para se definir a escrita ruim da boa, mas sinceramente, críticos literários avaliando livros são muitas vezes quase como duas comadres avaliando qual pão é melhor, se é o da padaria da esquina ou da padaria do outro lado da cidade. Os dois pães são feitos de praticamente os mesmos ingredientes, mas talvez um padeiro tenha mais cuidado ao sovar a massa e por isso ela é mais macia e leve, enquanto o outro pão é mais borrachudo e consistente. De qualquer forma, são ambos pães, trazem saciedade e as duas os apreciam do jeito que são.


Desculpe, eu tinha que usar uma metáfora com comida em algum lugar, o que eu mais fiz nas férias foi comer  ler. De qualquer maneira, me pergunto se a extinção dos leitores de Proust, Mann e Roth não tenha começado exatamente quando alguém posudo começou a colocar tais títulos como "literatura para gente inteligente" e portanto algo inalcançável para o leitor padrão médio. Ao mesmo tempo, culpam as pessoas por não se aventurarem fora de suas zonas de conforto. 


Faz poucos meses o twitter ilustrou bem essa situação. Na verdade, foi uma série de twittes. Como a zoação foi muito grande, resolvi tapar a imagem do sujeito pra não rolar a visita do infame "Processinho". Assim, ele será representado aqui pela imagem de um pthirus pubis, vulgo chato:


Como podem reparar, eu precisei tapar o nome duas vezes porque o cara retweetou os próprios twittes. Quem diabos faz isso?!

Ah, e também acabo de ver que a data em que ele postou foi em novembro de 2016, o que comprova que ele foi vítimas dos escavadores de twitter. Tô dizendo, isso ainda vai virar profissão pelo jeito.

Quanto à imagem, ela reforça a ideia de que só quem lê os clássicos é que merece ser chamado de leitor. O resto é consumidor de "distraçãozinha barata." Como se houvesse um guardião da Literatura de Verdade pra te garantir ou retirar sua carteirinha de leitor.

"Os jovens leitores de poesia estão quase extintos. A garotada mais escreve do que lê poesia, o que é uma ironia curiosa. Esse desinteresse se repete quanto à literatura brasileira, exceção, claro, dos livros de fantasia nacionais, que experimentaram um boom nos últimos anos (o que é bom em termos editoriais). E a roda viva segue."


Quanto à poesia, eu não saberia dizer. Não li muita poesia além do que foi pedido na escola. No máximo, um Bukowski desavisado no face. Conheço gente que lê e escreve poesia, mas posso dizer que o problema de ler menos do que se escreve é o mesmo entre muitos escritores de prosa, eu inclusa. E também não entendo o que o autor quer dizer com isso: Se os jovens estão escrevendo poesia, pra quem escrevem? Pra eles mesmos? Nenhum deles lê as poesias uns dos outros?

Tá, eu entendi: ninguém está lendo os autores que ele considera válidos. Mas esse não é um problema que se resolve apenas culpando as pessoas por não lerem e sim mostrando como ler aquela obra aparentemente inacessível pode ser interessante e proveitoso pra pessoa. Acho importante sim as pessoas se desafiarem a ler coisas "difíceis" pra variar, mas ninguém precisa disso pra poder afirmar que gosta de ler. As pessoas podem ler apenas por entretenimento, não precisa sofrer pra provar o quanto você é inteligente. 

Apesar de ter reclamado um pouco, eu me diverti lendo Alice no País das Maravilhas. Não é um livro que eu tenha amado de paixão, mas foi uma boa leitura. Por outro lado, não vejo a necessidade de se perder tempo lendo o que não se gosta. Já vi gente adorando A sombra do vento, mas eu não tive saco pra terminar de ler aquilo. Talvez não fosse o meu momento, fazer o quê. É uma coisa que se aprimora com o tempo e a vontade da pessoa. 

Daí o autor fala dos livros de fantasia nacionais, que, segundo ele, seguem com alguma vantagem à frente de outros gêneros talvez mais "proveitosos" em sua opinião. Bom, eu só tenho a comentar que qualquer livro nacional de ficção e esteja vendendo bem, já é um sucesso em termos comerciais.

Essa aqui é a lista parcial de livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2018 até agora, segundo a Veja:

1º- Origem, Dan Brown;
2º- O homem mais feliz da história, Augusto Cury;
3º- Mais escuro. Cinquenta tons mais escuros pelos olhos de Christian Grey, E. L. James;
4º- Outros jeitos de usar a boca, Rupi Kaur;
5º- O homem mais inteligente da história, Augusto Cury (de novo!)

E lá, em 7º lugar, tem o Ordem Vermelha, de Felipe Castilho, que eu apurei ser um livro nacional de fantasia. Agora, se tivessem livros de não-ficção no meio, com certeza esses ficariam bem atrás, superados inclusive pelos livros de youtubers. Basta lembrar que o 1º volume da biografia do Edir Macedo vendeu 753 mil cópias em 2014.(fonte)


"Claro que sempre vão existir exceções. Se você é uma delas, fã de “Guerra dos Tronos” que está me odiando agora, saiba que estamos do mesmo lado, talvez demore, mas um dia você vai entender.

Como podem ver, o autor admite que existem exceções e que ele está do mesmo lado do leitor, digamos, que é um fã mais moderado de Guerra dos Tronos. Ok. Fora o tom paternalista do "Um dia você vai entender" que soa bem coerente com o resto da argumentação capenga dele, logo depois, ele volta ao velho pedantismo e cagação de regra, afirmando: 
     
"Mas se você não é uma exceção, então vou buscar reforços.
O crítico literário norte-americano Harold Bloom, indagado se “livros como os da série Harry Potter não são uma boa porta de entrada, um meio de despertar nas crianças o interesse pela literatura?”, respondeu: “Acho que não (…). E um dos piores escritores da América, Stephen King (…) confirmou minhas suspeitas, numa resenha que escreveu para o jornal ‘The New York Times’. Segundo ele, as crianças que aos 12 anos estão lendo Potter, aos 16 estarão prontas para ler os seus livros. Preciso dizer mais? (…) Li apenas uma das obras dessa autora (Rowling). A linguagem é um horror! Ninguém, por exemplo, ‘caminha’ no livro. Os personagens vão ‘esticar as pernas’, o que é obviamente um clichê. E o livro inteiro é assim, escrito com frases desgastadas (…). A defesa de livros ruins como esses, que vem de todos os lados — dos pais, das crianças, da mídia — é muito inquietante e nem um pouco saudável”. Troquemos King por Martin e a palavra “ruins” por “medianos” e temos exatamente meu ponto.""

Pelo que eu pude apurar, Harold Bloom é um dos críticos literários mais conceituados, influentes e polêmicos da atualidade, mas foda-se, porque quem ele é não importa tanto quanto seus argumentos. Quando ele diz que Harry Potter não é uma boa porta de entrada para a literatura e que Stephen King é um dos piores escritores da América, eu acho que isso só corrobora a visão que outros críticos tem dele, que é a de um velho ranzinza abraçado com Shakespeare, seu autor queridinho sobre o qual escreveu inúmeros livros e ensaios. 

Nada contra gostar de Shakespeare, que é realmente um dos nomes mais geniais da literatura. Só que o bardo era, na época em que escreveu e atuou, também um poeta das massas, lotando teatros que na época eram lugares de pouco ou nenhum prestígio. (fonte). Portanto, acho extremamente hilária a presunção dele em afirmar que Harry Potter é ruim por esse ou aquele outro detalhe, quando pode-se fazer o mesmo com Hamlet: "Não gosto muito, tem muitos solilóquios, a linguagem é difícil e antiquada..."

Parece que o que esses críticos querem mesmo é se isolar em suas bolhas de conhecimento e sapiência, sem nunca dar uma chance aos autores contemporâneos, sequer para ressaltar alguma característica positiva de seus trabalhos. 

Se tem uma coisa que eu acredito ultimamente é que um livro, um filme ou a obra que for não se faz sozinha, mas sim com o ponto de vista de quem a recebe. Então se um livro ou filme é julgado ruim por alguém, essa é uma opinião. Podemos discutir se ela está bem ou mal fundamentada, mas nunca poderemos encerrar a obra numa caixa de verdades universais porque sua interpretação final é inalcançável. 

Não acredita? Tá, vou chamar os meus reforços:


Achou que eu não ia falar disso aqui? Achou errado Otário



Vejamos um programa como o Choque de Cultura no Youtube.  Por que faz tanto sucesso? Porque é engraçado, lógico, mas também porque é uma resposta irreverente aos críticos cinematográficos de nariz empinado que adoram cagar regra sobre o que é e o que não é merecedor dos aplausos da plateia. Afinal de contas, é muito mais difícil achar algo que seja digno de elogio em Transformers, por exemplo, que num filme do Guilherme del Toro.

Não é chamando as pessoas de burras por lerem livros "inferiores" que os críticos vão mudar o gosto delas.




Em sua última gota de pretensiosidade (inventei essa palavra agora), o autor do artigo ilustra seu ponto de vista usando o Sheldon do The Big Bang Theory, o que, sejamos francos, não prova merda nenhuma. Todo o texto dele se limita a usar juízo de valor moral sobre os livros e exemplos pessoais numa retórica puramente persuasiva. O que críticos como esse autor querem na verdade é continuar empoleirados em suas teorias acadêmicas, se embebedando em sua própria arrogância. Paciência. Stephen King  continua com sua incrível mansão em Bangor, J.K. Rowling continua sendo uma das escritoras infantis mais populares, e esses vaidosos críticos continuarão exatamente onde estão: enfurnados em suas couraças, sem condições para lidar com o mundo concreto onde a maioria das pessoas sequer dá ouvidos às asneiras que eles falam.

Ah, e Stephen King é rei, e quem pensa diferente vai entrar na porrada comigo!!!





E pra quem ainda não está satisfeito com esse post enorme, recomendo esse vídeo do Nostalgia Critic (em inglês) sobre quando os críticos cinematográficos erram.
E se você não concorda com a minha análise do assunto, por favor, comente. Eu juro que não mordo... Muito;

 Até!

9 comentários:

  1. Adorei seu texto! Sinceramente, existe um pedantismo literário absurdo mundo afora. Os argumentos dele não provam nada além de que cada pessoa tem seu gosto e fim! Falar da linguagem de J.K Rowling, que foi escrito num inglês britânico do século passado, só prova que este "crítico" desconhece ou ignora isso. Se for assim, Drácula de Bram Stoker, Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Senhor dos Anéis e outras obras britânicas mais antigas sejam inadequadas a qualquer leitor contemporâneo. A dificuldade da leitura não determina quem é mais inteligente, é sim a forma que o conhecimento obtido através de qualquer leitura que seja é empregado. Obrigada pelo texto!

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    1. Nossa, nunca pensei que esse dia fosse chegar! Eu respondendo um comentário do meu blog! (assoa o nariz num lencinho) Obrigada por proporcionar este momento!

      A J.k. escreve numa linguagem contemporânea, que é diferente do estilo das obras clássicas, acho que foi isso que vc quis dizer, não é?
      Bom, pois é, nem por isso uma é pior que a outra, cada uma tem a sua devida importância em cada contexto. O que eu quis dizer e acho que faltou mais ênfase é que não dá pra dar um livro "classicão" com linguagem rebuscada pra uma criança e esperar que ela leia. Quem gosta de ler começa com livros mais "fáceis" e vai pros mais "difíceis". Até entendo que a crítica dele era com as pessoas que nunca saem dessa fase de só ler Harry Potter ou GOT, mas quando ele começou com essa arrogância eu não aguentei!
      Atitudes assim são o que afasta as pessoas da literatura.

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  2. Ótimo texto Jéssica, falo com tranquilidade :)

    Como você sabe literatura não é o meu forte, mas em relação a crítica o que eu vou falar encaixa muito bem com Cinema.

    O papel da crítica não é classificar algo como bom ou ruim; muito menos servir de filtro sobre o que deve ser visto/lido ou não. O papel da crítica é de ajudar o leitor/espectador a ter uma visão mais crítica sobre a obra, e dessa forma, a partir da sua vivência, poder dizer o que ele achou do que viu/leu e o como ele chegou a essa conclusão. A boa crítica não é só aquela que expõem aspectos técnicos (embora isso seja muito importante) como tanto axalta o autor do texto citado. Existem vários saberes (na arte e na vida) e se você pretende se especializar em alguma coisa tem a obrigação de aprender a respeitar isso. Perceba que o em nenhum momento o autor do outro post cita uma escritora como parâmetro de "boa literatura" por que será? Provavelmente porque ele não deve ter consumido outro tipo de literatura se não aquela exaltada pela velha burguesia composta pelo demográfico que tá todo mundo cansado de saber. Não que Dostoievski ou Oscar Wilde não sejam bons, mas são limitados pelas próprias experiências de vida. Pluralidade é algo importantíssimo quando se fala de arte, coisa que os críticos mais ortodoxos parecem não enxergar.

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    1. XD entendedores entenderão... Obrigada!

      Mas falando sério, continuo achando que talvez eu tenha soado meio abrupta nas minhas conclusões. Como vc mesma disse, o papel dos críticos é apontar aspectos que passam muitas vezes despercebidos pela maioria das pessoas.Muitas vezes usamos as críticas pra validar nossos gostos embora esse não seja exatamente o objetivo delas. No vídeo do Nostalgia Critic ele fala que também os próprios criticos estão sujeitos a influência de suas vivências e emoções, afinal, eles também são humanos.
      Não julgo o autor do artigo por não ter citado nenhuma escritora pelo fato de que não acho que realmente importe. Lógico que isso pode ser indicativo de uma falta gritante de diversidade nas leituras dele, mas também pode significar que ele simplesmente não considerou elas como parâmetros por gosto pessoal. Claro, isso é discutível, mas mesmo que não fosse o caso, a propria argumentação dele me parece falha. É como se o texto fosse apenas pra depreciar o gosto alheio sem realmente apontar as razões pelas quais os autores clássicos são tão importantes/interessantes.Eu concordo com você, esse esnobismo de exaltar coisas que já são amplamente conhecidas e estudadas em detrimento de obras tão boas quanto mas pouco divulgadas é de doer. O proprio Harold Bloom disse em entrevistas que enxerga como ameaça a substituição de autores conhecidos e classicos por outros novos e segundo ele, politicamente corretos. É uma questão complexa. Talvez no futuro eu me informe um pouco mais e tenha uma opinião a compartilhar. Até, e obrigada por comentar!

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  3. Concordo com alguns pontos, mas você interpretou errado certas afirmações do Ademir Luiz e a intenção dos críticos literários, como Bloom.
    Não se trata de condenar todo e qualquer contemporâneo ao degredo, dizer que não possuem qualidade alguma ou que seus leitores são burros. Sim, Shakespeare fez sucesso em sua época, mas o teatro grego, Dostoiévski, e Proust também, e isso não os coloca na categoria de qualquer pulp writer ou autor mediano que faça sucesso (e sei que não foi sua intenção dizer isso).
    A afirmação do Ademir foi de que para um desenvolvimento literário desde a infância, aquela sugestão dele seria interessante (você não vai entregar Moby Dick para uma criança de 8, por mais nerd que seja). Mas se estamos falando de um adulto, em momento algum vejo gente erudita afirmando que não se possa ler, logo de cara, Shakespeare, Dostoiévski ou Cervantes; pelo contrário, vejo-os recomendando a leitura destes o mais rápido possível, independente de seu background literário.

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    1. Eu reli o texto do Ademir Luiz e o comentário transcrito do Bloom, e entendo o seu ponto de vista. Como eu disse acima, talvez eu tenha sido um tanto abrupta ao criticá-los, mas veja, se o texto realmente apenas dissesse que os jovens adultos não leem mais os clássicos e o quanto isso pode ser prejudicial, eu concordaria 100% com ele. Eu acho que a literatura está aí pra ser lida, admirada e respeitada, principalmente as obras que resistem ao teste do tempo e trazem em si os questionamentos para os quais não se pode ter uma resposta fácil e definitiva. Mas no momento em que ele e o Bloom começam a desprezar os outros autores "medianos" e contemporâneos, como se eles não pudessem ser ao menos admirados e exaltados como bom entretenimento, daí eles perderam todo o meu respeito. Mesmo que tivessem boas intenções ao criticar a predileção do público por obras mais "vazias e comerciais", no momento em que um crítico simplesmente diz algo como "Stephen King é um dos piores escritores da América" e que o fato de crianças e adolescentes lerem Harry Potter é "inquietante e nem um pouco saudável", eu não posso encarar essas frases como outra coisa se não elitismo. Eu até concordo que essas realmente não sejam obras "elevadas" da literatura, mas daí a desmerecê-las por isso... Meu ponto aqui foi o de que as pessoas devem ler o que gostam e tentar avançar nos degraus de dificuldade conforme leem, mas isso tem que ser natural, não pode ser forçado como o Ademir passa no texto dele. Outra vez, se ele apenas dissesse que as pessoas precisam ler mais Cervantes, Dostoiévski ou o caralho a quatro, ok, eu concordaria. Mas daí a dizer que o aluno dele ter gostado de Dan Brown e isso ser considerado (ainda que nas entrelinhas) um desperdício porque ele não está lendo algo mais "difícil" é o ápice do pedantismo literário pra mim. Vai me desculpar, mas eu não entendi onde foi que eu interpretei errado as afirmações deles. Entendo o seu ponto de vista, mas continuo não concordando com o modo como esses críticos se expressaram.

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  4. Eu tô amando os teus posts! Sério! Lendo um atrás do outro.

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    1. Obrigada! Fique a vontade para comentar sempre que quiser. ;)

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    2. Você também pode aproveitar e clicar ali embaixo no botão "seguir", pra você saber quando tem post novo! Planejo atualizar em breve.

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